As Artes Liberais nos Libertam

O Pe. George W. Rutler escreveu o artigo abaixo em 2014 quando era pároco na Arquidiocese de Nova York para mostrar que as artes liberais nos libertam do mal. Ele nos adverte dos perigos do avanço da ditadura do relativismo nas escolas e universidades norte-americanas. O avanço dessa força destrutiva sobre a educação pretende subverter a educação clássica católica por enxergar nela o principal obstáculo para a escravização das mentes. E não nos enganemos, o embate entre as pedagogias modernas e a educação perene é batalha entre a liberdade e a escravidão.

Claro que, após quase uma década, muito mudou, e a providência divina encontrou homens e mulheres que aceitaram a missão de se tornar verdadeiros educadores. Nos Estados Unidos, bem como no Brasil, as escolas com currículos integral ou parcialmente inspirados no modelo clássico multiplicaram-se. 

Ainda assim, a leitura do Pe. Rutler é proveitosa para nos recordar que precisamos atender o mandado de Nosso Senhor para educar as nações, “Ide, pois, ensinai todas as gentes” (Mt 28, 19). Portanto, confiantes de que agimos como servos bons e fiéis cuja recompensa celestial nos aguarda, não tenhamos medo de aplicar nosso tempo e energias na restauração da verdadeira educação.  

Fr. George W. Rutler, Catholic Education Resource Center |Tradução: Equipe Instituto Newman


Patronos da educação clássica católica

A primeira parte do ano acadêmico de muitas escolas no mundo de língua inglesa se chama “Período de Michaelmas[1].”

A princípio o dia de abertura do período escolar não mudou muito desde os tempos de Shakespeare, com “o aluno contrariado, com sua pasta e seu rosto travesso matinal, arrastando-se como lesma para a escola;” (Do jeito que você gosta)[2]. Já em 1825, Sir William Curtis destacou a importância da “leitura, escrita e aritmética”, que remontam aos currículos clássicos gregos e latinos do trivium (gramática, retórica e lógica) e do quadrivium (aritmética, geometria, música e astronomia).

Além dele, o célebre Papa Silvestre II (ca. 950 – 1003), que foi bispo sucessivamente de Reims, Ravena e Roma se destacou como grande patrono da educação clássica, tendo, inclusive, escrito uma série de livros sobre o tema. A saber, ele foi um dos papas mais cultos de todos os tempos, além de ser o primeiro papa francês. Até hoje ele é conhecido pelas invenções do relógio de pêndulo e do órgão hidráulico, além disso escreveu sobre matemática, ciências naturais, música, teologia e filosofia, e introduziu na Europa o sistema decimal de numerais árabes. Pessoas supersticiosas (incluindo aqueles que ressentiam suas restrições à simonia e ao casamento clerical) acusavam-no de ter vendido sua alma ao diabo para obter seu QI fenomenal.

As artes liberais

As Artes Liberais, como o currículo clássico é conhecido, recebem esse nome porque têm como objetivo libertar o homem da ignorância e da indigna escravidão da falsidade. É por isso que tiranos e conspiradores odeiam o aprendizado clássico. Na Alemanha nazista, o arcebispo Josef Frings de Colônia lamentou: “O clero não pode mais dar instrução nas escolas elementares, e a instrução religiosa foi reduzida ao mínimo, se não completamente eliminada”. Ora, isso não era uma ameaça que ocorreu exclusivamente na Alemanha, na Bélgica ocupada ou na França de Vichy. Na Irlanda neutra, os bispos se opuseram a um “Projeto de Lei de Assistência Escolar”. O projeto foi eventualmente considerado inconstitucional pelo mais alto tribunal judiciário, o Cúirt Uachtaracha, que teria exigido que os pais enviassem crianças apenas para escolas aprovadas pelo Estado.

As ameaças modernas

O Papa Pio XII chamou as escolas católicas nos Estados Unidos de maior tesouro de nossa Igreja. Contudo o avanço do estado servil no mundo moderno pode destruí-las. Além disso, a filosofia libertadora da educação clássica já se encontra enfraquecida. O que é fácil de perceber devido ao seu declínio ao longo dos anos (em cinquenta anos, as matrículas na Arquidiocese de Nova York caíram quase 150.000). E ainda há o perigo de que o Estado estruture o currículo de maneiras que a contradigam totalmente, e o faça sem consultar os pais e pastores.

Com efeito, um programa “universal pré-jardim de infância” patrocinado pelo governo exige que o catolicismo seja ensinado somente de maneira sincrética e que objetos religiosos em nossas salas de aula sejam ocultados. Veja que tal programa menospreza o fato de que não há verdadeira educação sem o componente católico. Pois é esse o componente que liberta a mente da servidão ao Estado: os pilares da educação clássica precisam do grande alicerce da religião.

Posteriormente, Arcebispo Frings se tornou Cardeal (e seu assessor teológico se tornaria o Papa Bento XVI). Ele disse ao governo civil, em palavras transmitidas pela Rádio do Vaticano:

“É dever dos pais garantir que as crianças aprendam a verdade, ainda mais porque tudo está sendo feito do outro lado para impregnar nossas crianças com um espírito não cristão e para elas enxergarem a Igreja de Cristo com preconceito ao ponto delas irem em contra ao que a Igreja ensina.”

Referências

1. Nota do tradutor: Comemora-se o Michaelmas ou dia de São Miguel no dia 29 de Setembro. Tradicionalmente o ano acadêmico nos países de língua inglesa se divide em dois períodos de quatro meses, Fevereiro a Maio e Setembro a Dezembro. Desta forma, o período que se inicia em Setembro, próximo da festa de São Miguel, leva o nome do Arcanjo. 

2. Nota do tradutor: O autor faz referência à peça de Shakespeare conhecida como As You Like It, cuja tradução para o Português é “Do Jeito que Você Gosta”. A edição utilizada está disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/187718/Do%20jeito%20que%20voc%C3%AA%20gosta%20e-book.pdf?sequence=1&isAllowed=y    

 

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