A ausência da figura paterna é, sem dúvida, uma das crises mais agudas de nossos dias. Em tempos de homens-meninos que desejam viver na terra do nunca, é cada vez mais difícil encontrar exemplos de pais que amam a Deus e querem realizar sua missão na criação dos filhos. Nesse texto Jared Staudt, pai de seis filhos, nos ensina que a educação é a iniciação dos filhos na cultura e nos dá conselhos preciosos de como viver a paternidade da forma como Deus nos pede.
R. Jared Staudt, Catholic Exchange | Tradução: Equipe Instituto Newman
Uma crise na educação
Há quase vinte anos que trabalho na catequese. E qualquer pessoa envolvida na educação religiosa pode dizer que estamos enfrentando uma crise. Em síntese, nossos programas não produzem mais católicos maduros, nem discípulos para toda a vida. Com efeito, as aulas sobre Deus já não são suficientes para atrair nossas crianças para um estilo de vida cristão, seguindo Jesus e compartilhando sua missão no mundo. E curiosamente sabemos qual é o ingrediente que falta em nossa formação catequética: o papel dos pais.
Ora, a razão para isso é que só os pais podem traduzir a fé para a vida cotidiana no lar, tornando a catequese mais do que simples instrução, mas verdadeira formação para inserção em uma cultura — um estilo de vida cristão. Ao passo que isso faz da nossa fé algo real e vivo para nossos filhos, algo que molda tudo o que fazem e que se torna uma presença tangível em suas vidas.
Os pais, em particular, têm mais influência na vida de fé de seus filhos do que qualquer outra pessoa — mais do que as mães, os avós, os professores e o padre da paróquia. Estudos mostraram que se os pais não praticam a fé, é muito improvável que as crianças o façam na idade adulta. Em contrapartida, se os pais o fazem, as crianças têm mais chances de frequentar a igreja no futuro.
O papel do pai
Assim sendo, os pais são chamados a liderar suas famílias na fé e a fornecer um modelo de vida cristã para seus filhos. Enquanto pais, somos chamados a ser os professores de nossos filhos, principalmente através do exemplo que damos para eles. Afinal, os pais são os principais educadores de seus filhos, e isso inclui a educação na fé.
Logo, os pais têm que desempenhar um papel central nessa educação, porque são cruciais na formação religiosa de seus filhos. Então, se limitarmos nossos esforços a deixar nossos filhos em um programa paroquial, eles não serão formados na fé. Uma vez que eles precisam de um exemplo e de iniciação no estilo de vida cristão, abraçando não apenas a fé, mas o todo o comportamento cristão.
Portanto, nosso objetivo deve ser ensinar aos nossos filhos como viver como cristãos no mundo. Para fazer isso, temos que nos tornar catequistas da vida cristã, mostrando como fazer da fé o centro de nossas vidas. Da mesma forma, São João Paulo II deixou isso claro: “A catequese visa, portanto, a desenvolver a compreensão do mistério de Cristo à luz da palavra de Deus, para que toda a humanidade de uma pessoa seja impregnada por essa palavra” (Catechesi Tradendae, §20).
Ou seja, devemos conhecer Cristo para que Ele possa moldar a forma como vivemos de forma total e concreta. Também o Papa Bento XVI disse o mesmo sobre a educação católica, mas de forma mais ampla, ao afirmar que ela deve “buscar fomentar a unidade entre fé, cultura e vida, que é o objetivo fundamental da educação cristã” (Papa Bento XVI, “Discurso aos Participantes da Convenção da Diocese de Roma”, 11 de junho de 2007).
Ou Cristo ou o mundo
Se acaso não ensinarmos aos nossos filhos como viver sua fé de forma integrada, eles seguirão o caminho do mundo. Em síntese, há dois caminhos para nossa cultura familiar, ou ela se conforma à nossa fé ou conforma-se à visão do mundo secular. E a catequese deve transmitir o conteúdo da fé, bem como todo o estilo de vida cristão. Christopher Dawson ensinou isso de forma poderosa em seu livro Understanding Europe (Compreendendo a Europa), relacionando como tivemos uma quebra na comunicação de nossa identidade cristã no Ocidente:
“Desde o início, a educação cristã foi concebida não tanto como aprender uma lição, mas como a introdução a uma nova vida, ou ainda mais como a iniciação a um mistério… A educação cristã era algo que não podia ser transmitido apenas por palavras, mas envolvia uma disciplina de todo o homem”.
Desse modo, se nossos filhos se conformarem mais com a cultura secular do que com a fé, sem dúvida enfrentaremos problemas na criação de homens e mulheres cristãos.
Conselhos práticos
É claro que há algumas coisas que podemos fazer no papel de pais para ser professores eficazes. Para começar, precisamos colocar Deus em primeiro lugar, especialmente ao priorizar a Missa dominical. De tal forma que tudo o mais deve ser construído em torno desse momento central da semana. Isso significa que tudo, esportes, recreação e trabalho devem se encaixar após a adoração e não antes.
O dia do Senhor
Tornar o domingo um dia especial também cria a oportunidade de passarmos tempo juntos, como família, e ter o lazer de estar ativos ao ar livre, divertir-se com jogos, conversar, fazer uma refeição maior e desfrutar da companhia um do outro. Igualmente, ao longo da semana, devemos manter Deus em primeiro lugar, orando todos os dias. Portanto, nossos filhos precisam aprender a rezar. Ainda que rezar possa ser simples não é necessariamente intuitivo. Por isso é bom ensinar algumas das devoções importantes, como o Santo Terço, a Ladainha da Divina Misericórdia e as Estações da Cruz.
A palavra de Deus
O Papa Bento XVI falou da tarefa do “verdadeiro papel dos pais de transmitir e testemunhar o significado da vida em Cristo”, proclamando “a palavra de Deus aos seus filhos” e mantendo a Bíblia em um “lugar digno e usada para leitura e oração” (Verbum Domini, 85).
Dessa forma, ler a Bíblia por meio da Lectio Divina é uma maneira importante de aprender a rezar. Na Lectio, temos diariamente um pequeno trecho da Bíblia, onde ouvimos a voz de Deus. Em seguida, pensamos sobre isso, tentando entender o que Deus está nos dizendo naquele trecho. Depois, em nossas orações temos a oportunidade de responder a Deus, sobre o que ouvimos. Então, sentamos com Deus em silêncio, buscando união com Ele e ouvindo sua voz em nossos corações. É uma conversa com Deus e uma via de mão dupla onde estamos ouvindo e respondendo.
Ora et Labora
Além da oração, construímos a cultura familiar por meio do trabalho e de atividades comuns. James Stenson observou em seu livro Successful Fathers: The Subtle but Powerful Ways Fathers Mold Their Children’s Characters (Pais Bem-Sucedidos: As Formas Sutis, mas Poderosas, nas Quais os Pais Moldam o Caráter de Seus Filhos) que nossos filhos geralmente não nos veem trabalhar, mas nos veem apenas em nosso tempo livre.
Assim, é importante que nossos filhos nos vejam em nosso melhor, envolvendo-os em nossas forças e habilidades sempre que possível, mas também trabalhando em projetos familiares juntos. Não se trata somente de ensinar-lhes habilidades, mas de ensinar-lhes a arte da vida. Antes de tudo devemos guiá-los nas tarefas desafiadoras, e lhes mostrar como encarar os erros e estabelecer propósitos e metas comuns para a família.
O perigo da tecnologia
A arte da vida inclui a oração, o trabalho, a formação de caráter e aprender a ser forte diante das dificuldades. Neste momento, um dos principais desafios que enfrentamos em nossas famílias é a tecnologia. E principalmente nesse aspecto devemos liderar através do exemplo.
Ora, como podemos ser moderados no uso da tecnologia, e não permitir que ela nos domine, mas tratá-la como uma ferramenta? Certamente é um desafio, mas devemos recordar que dar ênfase à oração e ao tempo em família em vez da tecnologia serve como testemunho importante sobre nossas prioridades. Por isso, limitar o uso da tecnologia é uma tarefa importante para os pais hoje e um aspecto-chave de nosso papel como educadores. Precisamos substituir a influência da tecnologia, formando as mentes e imaginações de nossos filhos, lendo em voz alta juntos, cantando, brincando e passando tempo ao ar livre.
Ações valem mais do que palavras
No geral, nossos filhos olham para nós para ensiná-los a viver. Nossas ações os ensinam e os guiam na fé e os preparam para a aventura da vida. Não é possível enfatizar o suficiente a urgência de construir uma cultura cristã em nossas famílias como oásis de sanidade e santidade em um mundo sem Deus. Iniciar nossos filhos em uma cultura cristã é nossa tarefa primordial como pais e a coisa mais importante que podemos fazer por sua formação e felicidade.